quinta-feira, 8 de abril de 2010

PROIBIÇÕES À BELEZA

Nunca verás um quadro de Andy Warhol nem de Frieda Kahlo, nem aplaudirás um discurso político, nem deixarás que se te grete a pele dos cotovelos nem dos joelhos, nem que te endureçam as plantas dos pés.

Nunca ouvirás uma composição de Luigi Nono nem uma canção de protesto de Mercedes Sosa nem verás um filme de Oliver Stone nem comerás directamente das folhas da alcachofra.

Nunca raparás os joelhos nem cortarás o cabelo nem terás borbulhas, cáries, conjuntivite nem (muito menos) hemorróidas.

Nunca andarás descalça sobre o asfalto, a pedra, o saibro, as lajes, o oleado, o zinco, a lousa e o metal, nem te ajoelharás sobre uma superfície que não ceda como o miolo de chancays (antes de torrar).

Nunca usarás no teu vocabulário as palavras telúrico, amorzinho, conscientizar, visualizar, estatalista, caroço, folhelho ou societal.

Nunca terás um hámster nem farás gargarejos nem usarás postiços nem jogarás brídege nem usarás chapéu, boina ou rolo.

Nunca armazenarás gases nem dirás palavrões nem dançarás o rock and roll.

Nunca morrerás.

Mário Vargas Llosa, Os Cadernos de Dom Rigoberto